A primeira vez que me senti médica foi no primeiro dia de aula da faculdade. Foi um deslumbramento, um mundo novo, uma experiência sem precedentes. Mas logo me tornei uma aluna, como todas as alunas de todos os cursos da faculdade.
A segunda vez que me senti médica foi na aula de anatomia, quando pela primeira vez vi um corpo, com toda a solidão e fragilidade humanas, sob as minhas mãos. Mas logo me tornei uma aluna como todas as alunas da medicina.
Depois essa sensação se repetiu quando se iniciaram as aulas em que atendíamos pacientes. Me intrigava muito a grande diferença entre as pessoas, entre suas histórias, suas possibilidades. E acho que a partir daí comecei q ficar diferente das outras alunas, e elas também se diferenciavam entre sim.
Quando veio a formatura, o peso do diploma, do carimbo, o primeiro atendimento, a primeira receita… de tudo o que mais me fez entender que era médica foi a primeira parada cardíaca que atendi, de um bebê de 3-4 meses, que acabou falecendo nas nossas mãos.
Seguiram-se várias vidas, algumas salvas, algumas perdidas, todas um grande aprendizado e cada uma trazendo uma pequena mudança que me diferenciava mais.
Veio a Neurocirurgia, depois a Neuro-oncologia, o contato próximo com a fragilidade da vida…
De certa forma, acho que a cada dia a sensação de “nossa, sou médica” ainda bate. Mas de uma forma diferente, de uma forma mais madura… cada pessoa, cada paciente, cada familiar, traz uma contribuição para que essa sensação não seja a mesma todos os dias.
Que assim seja sempre… 🙏🏻